Muitas pessoas podem acreditam que os animais na fazenda se alimentam apenas de pasto, e que isso dura o ano inteiro. Mas produtores experientes entendem que cada animal tem a sua própria necessidade nutricional. Assim, enquanto algumas vacas conseguem manter a saúde e produtividade com uma alimentação a base de pasto, outros animais devem ser suplementados através de rações com nutrientes específicos. E ainda, algumas vacas possuem margem de produtividade para poderem consumir uma alimentação melhor, ou seja, se alimentar mais para produzir mais.

Só que em várias regiões, as mudanças de climas e estação impossibilita boa pastagem par ao ano todo, ou o campo é insuficiente para a correta recuperação da pastagem. Além disso, alimentar o gado apenas com ração pode ser um investimento caro, tanto financeiro como de saúde animal. E é nesse cenário que entra a silagem.

Quer saber todos os principais detalhes sobre silagem e como produzir uma silagem correta para o seu rebanho e com a melhor qualidade? Continue lendo este artigo ou escute a versão em áudio desta matéria. Além disso, deixe seu comentário no final dizendo o que achou, como anda a nutrição no seu rebanho e quais as suas dificuldades atuais. Assim, podemos produzir ainda mais conteúdos de qualidade para você e sua fazenda.

Longa fila de vacas leiteiras (holandesa) comendo feno fresco em uma fazenda

Primeiro, o que é uma silagem?

A silagem nada mais é que as plantas forrageiras (pasto ou grãos) conservadas em um local específico, que normalmente chamamos de silo. O detalhe importante é que o silo permite condições de ausência de oxigênio, o que é fundamental para a fermentação desse material. A ensilagem, então, consiste no processo de colheita e armazenamento do material ainda verde dentro do silo, o que permitirá a fermentação dos carboidratos solúveis (açúcares) presentes no material verde. Um detalhe mais profundo é que esse processo resulta na produção de ácidos orgânicos, principalmente o ácido lático, e em menor proporção o ácido acético. A presença desses ácidos reduz o pH do meio, estabilizando a silagem e inibindo a ação de microrganismos capazes de promover a sua deterioração.

Agora, para entender bem como é esse processo de produção e seus reais benefícios, precisamos entender qual material devemos utilizar para a nossa produção de silagem.

Qual planta forrageira usar?

As principais forrageiras utilizadas para silagens são o milho, o sorgo, a cana-de-açúcar, cereais de inverno, e outras gramíneas. A cultura do milho é a mais utilizada porque tem uma excelente qualidade para atender às demandas do sistema de produção. Isso acontece por causa do seu alto valor nutritivo, o que pode ser constatado pela sua alta digestibilidade e densidade energética. No entanto, vale a pena ressaltar que diversos fatores podem afetar a qualidade e o valor nutritivo do material ensilado, tais como, as características da espécie forrageira escolhida, o ponto de colheita, o tamanho do picado, a adequada compactação e a vedação do silo, entre outros fatores. 

Sabe reconhecer a necessidade nutricional do seu rebanho?

       A escolha da silagem, como fonte de volumoso na dieta dos animais, é uma alternativa viável para que se possa garantir o fornecimento de alimento de alta qualidade, permitindo não somente a manutenção, mas também o aumento da produção de leite, principalmente no período de restrição de alimentos ou mesmo em sistemas intensivos de produção. Além disso, o uso de silagens pode proporcionar outros benefícios, por exemplo, a possibilidade de armazenar grande quantidade de alimento em espaço reduzido, além de otimizar o uso do excesso de forragem produzida em época de alta produção do pasto (Grant e Ferraretto et al 2018). 

A silagem é utilizada, normalmente, como fonte de energia para os animais, sendo que a energia é o nutriente mais limitante ao desempenho das vacas leiteiras. Na sua vida produtiva, a vaca passa por várias fases, cada uma com exigências nutricionais específicas. O adequado manejo nutricional faz com que os animais expressem o seu potencial. Sabe-se que as vacas leiteiras alimentadas com forragem de alto valor nutritivo produzem mais leite, com menor necessidade de suplementação com alimentos concentrados, o que é importante para a atividade do ponto de vista de sustentabilidade econômica.  Portanto, é fundamental conhecer adequadamente o valor nutritivo da silagem utilizada na dieta dos animais, o qual requer o conhecimento da sua composição bromatológica, associada ao índice de digestibilidade das suas frações nutritivas, no sentido de otimizar o uso da suplementação, a qual tem um custo expressivo em relação a forragem conservada.

O segredo do milho

 O amido é o principal carboidrato do grão do milho e constitui a principal fonte de energia em dietas para vacas em lactação. Este carboidrato representa cerca de 70% da matéria seca na maioria dos grãos de cereais. Entretanto, a maioria dos híbridos de milho cultivados no Brasil, possui alta vitreosidade (grãos duros), que é definido como a porção do amido envolvida por proteínas que cercam o grânulo de amido (Pereira et al., 2004). Uma boa estratégia para contornar esse problema é aumentar o tempo de estocagem das silagem, visto que a literatura tem relatado que o maior tempo em contato com ácidos orgânicos causa a degradação destas proteínas, aumentando assim a digestibilidade do amido.

Segundo Kung Jr et al. (2018), quando as vacas passam a receber silagens “novas”, ou seja, silagens fermentadas por períodos curtos, apresentam menor produtividade. Isso ocorre porque, provavelmente, o aporte total de energia líquida consumida pelos animais tenha reduzido a medida que as silagens mais recentes passam a compor a dieta, devido a sua menor digestibilidade em relação às silagens estocadas por longos períodos. Outra forma de contornar o problema dos grãos duros é o uso dos condicionadores de grãos, rolos do tipo “crackers” na ensiladeira que realizam o fracionamento-esmagamento do grão.

O problema relacionado à umidade da matéria

O Grupo de Estudo em Aditivos na Produção Animal (GEAPA) da UFSM tem avaliado, além das silagens com milho e sorgo, outras alternativas como os cereais de inverno, aveia, trigo, azevém e cevada; A utilização desses materiais para na forma de silagem apresenta um grande limitante que é o seu baixo teor de matéria seca. No entanto, o produtor pode realizar duas técnicas relativamente simples para sanar esse problema que são: primeiro, adicionar produtos com alto conteúdo de matéria seca, como grãos de cereais (milho moído, por exemplo); segundo, fazer o pré-emurchecimento ao sol do material a ser ensilado. Nesse sentido, a remoção parcial de água da planta, através do pré-emurchecimento ou da adição de produtos adsorventes, pode ser uma opção interessante, por proporcionar condições ideais para o crescimento de bactérias láticas. 

Outra ferramenta importante para melhorar o processo fermentativo da silagens é o uso de aditivos, como os aditivos microbianos que estimulam a fermentação lática promovendo a rápida queda do pH, preservando, adequadamente, o material ensilado e reduzindo suas perdas.  Além disso, a ação das enzimas, por meio de processo de hidrólise, transforma os carboidratos estruturais em substrato fermentescível pelas bactérias láticas, podendo assim, aumentar o consumo de matéria seca e melhorar o desempenho dos animais.

     Portanto, o adequado manejo do processo de ensilagem e o conhecimento das técnicas que auxiliam na melhora do valor nutritivo da massa ensilada, podem proporcionar maiores níveis de produção em vacas leiteiras.  

Referências

KUNG Jr, L. et al. Silage review: Interpretation of chemical, microbial, and organoleptic components of silages. Journal of Dairy Science. v. 101, n. 5, p. 4020–4033, 2018. https://doi.org/10.3168/jds.2017-13909

PEREIRA, M. N.; PINHO, R. G. V.; BRUNO, R. G. S.; CALESTINE G. A. Ruminal degradability of hard or soft texture corn grain at three maturity stages. Scientia Agricola, Piracicaba, v.61, n.4, p.358-363, 2004. 

GRANT, R. J; FERRARETTO, L.  Silage review: Silage feeding management: Silage characteristics and dairy cow feeding behavior. Journal of Dairy Science, v.101, p. 4111-4121, 2018. https://doi.org/10.3168/jds.2017-13729

Zoot. Stela Naetzold Pereira
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Zootecnia (UFSM)
Grupo de Estudo em Aditivos na Produção Animal (GEAPA)
e-mail: snaetzold@gmail.com