Entenda neste artigo como é feito o teste da caneca de fundo preto. Sabe quando é necessária a sua realização? Precisamos mesmo fazer o teste antes de cada ordenha?
Não. Essa resposta podea chocar alguns produtores e mesmo técnicos. Mas, o teste da caneca de fundo preto não precisa ser realizado a cada ordenha. O produtor pode escolher realizar em apenas uma ordenha do dia. Além disso, pode mesmo não realizar. Mas claro, a realização deste teste tão simples tem grandes vantagens:
- Identificação rápida dos casos de mastite clínica;
- Obtenção de um leite com melhor qualidade;
- Estabelecimento da ordem de ordenha.
Leite de melhor qualidade?
Sim, o leite mais contaminado ou sujo está presente na cisterna do teto. E esse leite é o primeiro a sair. Além disso, ele sai totalmente quando realizamos o teste da caneca de fundo preto, ao retirar os três primeiros jatos de cada teto. Algumas propriedades não fazem o teste. Mas descartam os três primeiros jatos de cada teto diretamente no piso da sala de ordenhas. Outras propriedades têm o piso da sala preto. Assim, fazem o teste rapidamente no piso.
Mas eu desaconselho estas práticas. Isso porque podemos estar disseminando patógenos ambientais no local da ordenha. Ou seja, podemos acabar aumentando os casos de mastite clínica no rebanho. Mas, como vimos, o descarte destes primeiros jatos diminui a CPP no resfriador. Essa é uma grande vantagem para o produtor. Em alguns casos, o produtor se beneficia dessa diminuição especialmente se tiver alguma bonificação por qualidade.
Mas como vamos identificar a mastite clínica sem realizar o teste da caneca de fundo preto?
Antes de continuar, é necessário um alerta. É fundamental que a ordenhadeira mecânica tenha um filtro no final da linha do leite, antes do leite ir para o resfriador. Já trataremos sobre a importância deste detalhe.
Quando realizamos o teste da caneca de fundo preto, queremos contrastar o branco do leite com o preto da caneca. Assim, fica mais fácil observar alterações macroscópicas do leite. Isso inclui presença de pus, sangue, coágulos e grumos. Esses são os sintomas clássicos da mastite. E como há sintomas, estamos falando de mastite clínica, ou ambiental. Contudo, a vaca apresenta outros sintomas além dos observados no leite. Note se uma das quatro glândulas mamárias do úbere está inchada, avermelhada, com febre, endurecida (empedrada) e mesmo com sensibilidade ao toque (dor). Bem provavelmente este animal está com mastite clínica. Todo bom ordenhador conhece muito bem seus animais.
Portanto, reações de dor são facilmente identificadas, além de outros comportamentos não normais das vacas. Atenção se ele percebe esta situação no preparo da vaca para a ordenha. Assim, ele já pode sanar essa dúvida fazendo rapidamente o teste da caneca de fundo preto nesta vaca. Isso exclui a necessidade de fazer em todo o rebanho.
Vejam que o manejo da ordenha fica mais racional e rápido, pois o teste toma tempo na ordenha para ser realizado. Em pequenos rebanhos este ganho não é perceptível. Mas em rebanhos médios a grandes, a realização do teste é praticamente inviável. Você já imaginou fazer o teste em um rebanho com 500 vacas em cada ordenha?
Filtro de leite vs teste da caneca de fundo preto
O filtro irá filtrar todo o leite ordenhado e extrair possíveis sujidades. A análise adequada e apurada do filtro após a ordenha é imprescindível. Podemos obter informações interessantíssimas. A primeira é quanto à qualidade do ambiente em que os animais estão alojados. A outra situação se refere à limpeza, pré-desinfecção e secagem dos tetos, ou seja, se o preparo dos animais na ordenha está sendo bem conduzido. Note se o filtro está ficando muito sujo após a ordenha. Isso é sinal de que o ambiente de alojamento e a qualidade da ordenha estão deixando a desejar em relação às boas práticas de produção. Neste sentido, propriedades que fazem uma análise do escore de sujidade dos filtros. Os expõem sequencialmente ao longo dos dias para conseguir diagnosticar falhas no processo mais rapidamente. E, além disso, e treinar melhor o pessoal envolvido no trato com os animais.
Por outro lado, todas aquelas alterações do leite que podemos identificar no teste da caneca, podem estar presentes também no filtro do leite. Então por que realizar o teste da caneca? Vejam que, se eu identifiquei pus, sangue, coágulos ou grumos no filtro, eu ainda não sei qual animal está com mastite. Sei apenas que pelo menos uma vaca no rebanho está doente. A partir desta informação, se não foi possível identificar a vaca pelos outros sintomas, esperamos a próxima ordenha. Assim, iremos realizar o teste da caneca de fundo preto em todos os animais. Nesta situação, você perdeu apenas 8 ou 12 horas para saber qual vaca estava doente.
Existe razão para realizar o teste da caneca de fundo preto em todas as ordenhas?
Não diria necessariamente que deve, como uma obrigação. Mas, em algumas situações, não realizar seria perder uma oportunidade. Esse é o caso principalmente quando realizar o teste não trás muito desconforto para o ordenhador ou perda de tempo para a ordenha. Note pequenos rebanhos, e, principalmente, em propriedades em que não há filtro, como com o uso de transferidor ou balde ao pé. Nesses casos, não há razão para não realizar o teste.
A outra situação é quando a ordenha é realizada manualmente. Se você já irá colocar a mão no teto das vacas para ordenhar, aproveite e faça o teste. Até porque, nestas situações, o rebanho também é pequeno.
Conclusão
Observem quando realizar o teste da caneca de fundo preto de forma direcionada. Quando há uma suspeita real de mastite clínica, é uma situação bem mais racional e mais cômoda que realizar o teste antes de cada ordenha. Em alguns casos, podemos até realizar uma vez por dia. Além disso, o produtor deve ter consciência de que a ocorrência de mastite clínica é baixíssima. Em condições de boas práticas de produção de leite, 1% das vacas são acometidas. Tanto que muitos produtores dizem que o seu rebanho não tem mastite há muitos anos. Não que eles estejam mentindo. Mas na verdade, se referem somente a mastite clínica. Isso pode ser por desconhecerem a mastite subclínica, ou mesmo, por não realizarem algum teste para identificar esta enfermidade.
E a mastite subclínica, como vamos diagnosticar? Bem, isto é assunto para uma outra conversa! Mas aproveito para recomendar uma leitura do nosso artigo. Análise de CCS (contagem de células somáticas) e como ela pode aumentar a sua produtividade.
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Prof. Julio Viégas - Doutor em Zootecnia Departamento de Zootecnia - UFSM Coordenador Grupo de Estudo em Aditivos na Produção Animal Fone: +55 55 32209402 julio.viegas@ufsm.br
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